sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Testemunho real - Violência no namoro

Aos 18 anos, Maria esteve refém no quarto e foi várias vezes perseguida e ameaçada. O agressor era o namorado: "sempre houve um ciúme exacerbado. No início soa a amor e até sabe bem, mas depois... é um terror".

Maria (nome fictício) tinha 17 anos e apaixonou-se por "um homem mais velho, lindo". "Era um deslumbramento. No início, ele quase estendia um tapete vermelho para eu passar", recorda.


Um ano depois, Jorge (nome fictício) deixou o emprego em Lisboa e mudou-se para Coimbra, para ficar perto dela: era mais um sinal de amor. Mas foi esta proximidade diária que fez com que Maria sentisse que algo de errado se passava.


"Tinha de explicar por que é que estava a falar com esta ou outra pessoa, por que é que tinha ido aqui ou ali. Tinha que justificar tudo", lembra, 15 anos depois, quando já consegue contar a história sem chorar.


De acordo com o estudo da Universidade do Minho sobre violência no namoro, um em cada cinco jovens é vítima de comportamentos emocionalmente abusivos. Actos de controlo ainda são vistos como manifestações de ciúme e confundidos com "provas de amor", lembrou a autora do estudo, Sónia Caridade.


Maria foi-se afastando dos amigos e família, deixou de ter vida social, sentia-se "numa redoma". Um dia percebeu que não queria continuar, mas ele já conhecia todas as suas rotinas e "tornou-se claustrofóbico".

Terminou a relação e passou a ser perseguida diariamente pelo ex-namorado, que "fazia escândalos na rua" e "ficava noites inteiras" à porta de sua casa. "Começava a bater à porta às dez da noite e, com vergonha dos vizinhos, acabava por deixá-lo entrar. Quando ele percebia que as minhas colegas não estavam, fechava-se no meu quarto".

Maria passava a noite com ele. "Ele obrigava-me a estar na cama e a ter relações sexuais sem querer. Era os píncaros da loucura. Não era uma violação, mas na verdade eu não o queria fazer. Era uma mistura de sentimentos, de amor e repulsa ao mesmo tempo e, no fim, acabamos por ceder de uma forma que não é normal", recorda, lembrando que foi com ele que perdeu a virgindade.

"A violência sexual, a não ser quando envolve actos de maior gravidade, não é percebida pelos jovens como forma de violência." lembrou Carla Machado, orientadora da tese de doutoramento, para a qual inquiriu mais de quatro mil jovens entre os 13 e os 29 anos.

Maria sentia-se "sozinha", "tinha vergonha" de assumir perante os outros que tinha escolhido mal o primeiro homem da sua vida e, no desespero, tentou o suicídio. "Eu não queria morrer, queria apenas que aquela loucura acabasse, nem que fosse por algumas horas", recorda.

Foram os amigos que a "salvaram", a "melhor amiga" que esteve com ela nos momentos difíceis, os colegas que chamaram a polícia quando ele não a largava.

"Apanhava-me na rua, agarrava-me no braço e nem a polícia conseguia que ele me largasse. Diziam que não podiam fazer nada porque eu não fazia queixa formal. Quando ele se distraía, fugia e era acompanhada pela polícia até casa, para garantir que ele não me iria fazia mal", recorda.

A perseguição só acabou quando Jorge foi internado no Hospital psiquiátrico Sobral Cid, depois de se tentar suicidar, uma fórmula para a forçar a ficar com ele. Durante muito tempo, Maria tinha recorrentemente o mesmo pesadelo: "Passava a noite a sonhar que estava em fuga. Era um trauma da violência física de que fui alvo".
Nos apontamentos da faculdade, ele deixou-lhe um recado que Maria só viu anos mais tarde: "Todos temos uma loucura e eu tenho a minha".


Sílvia Maia, da Agência Lusa
Imagem: http://farm4.static.flickr.com/3141/2627955275_df496fe3b4.jpg

3 comentários:

  1. obrigada por revelares o teu testemunho....
    obrigada

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  2. eu passei pelo mesmo, quando ainda era muito nova, conheci o diogo um rapaz muito simpatico , foi o meu primeiro namorado, nos primeiros tempos foi maravilhoso e estavamos felizes, depois ele começou a ser demasiado possesivo, como se tivesse outra personalidade, impedia-me de estar com as minhas amigas, dizia que eu nao gostava dele, proibiame de ter amigos rapazes, chegando mesmo a bater-me por apenas me ver a falar com um rapaz da minha turma que era o meu melhor amigo ( o qual acabei por me afastar por medo ), ele insultava-me constantemente, batia-me, e depois pedia desculpa muitas vezes mesmo, oferecia-me presentes, dizia que amava, mas depois voltava a ser violento. tinha muitos aranhões no corpo nessa altura e os meus pais e amigas desconfiavam que algo de errado se passava mas eu tinha vergonha de dizer a verdade. ainda me custa de falar disto.

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  3. eu comecei a namorar com 14 anos, era o meu primeiro namorado, e eu estava muito apaixonada (pensava eu). No início era tudo muito bom, até que os ciúmes dele começaram a dar conta de mim. Não podia sair, obrigou-me a desisitir do futebol (que eu adorava), não queria que eu continuasse a estudar, não podia olhar pra ninguém, chegou a dar-me duas estaladas na cara. Fazia-me chorar tanto....Os meus pais aprecebiam-se e chamava-me a atenção, mas eu, muito inocente, não ligava, até que aos 17 consegui livrar-me dele. Foi um alívio tão grande....Sentia-me tão livre...não imaginam como. Nesse ano entrei para a universidade, tirei o meu curso e mudei de vida. Por favor, não deixem de fazer o que gostam por causa de um parceiro que não vos merece.

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